Roteiro - Hawking

Cena 1, interior, Casa de Charlotte Manson, noite.

Charlotte dorme em seu quarto, a janela aberta, as cortinas esvoaçando, com chuva e trovoadas. De repente, ouve um barulho e acorda, vendo o vulto de um homem em cadeira de rodas, com um raio.

CHARLOTTE:

Meu Deus, o que é isso?!

STEPHEN HAWKING, com voz robótica:

NÃO SE PREOCUPE, CHARLOTTE, SÓ VIM AQUI CHEIRAR SUAS CALCINHAS.


A imagem para fora da casa de Charlotte.
Ouve-se um grito.
Fim da cena.

Cena 2, interior, NYPD (New York Police Department [filial de Porto Alegre]), noite.

Mastodonte, o segurança, entra irrompendo no escritório do capitão Felisberto Bragança.

MASTODONTE
Mais um caso! Mais um caso!

FELISBERTO BRAGANÇA
Maldição! Se cada menor de idade desta cidade continuar perdendo o cabaço por causa deste maníaco, não termos mais virgens para executar em nossos rituais pagãos.

AGATHA ANDERSON, com voz sensual
Calma, chefinho... pode ser que desta vez nós capturemos o maníaco estuprador.

*Agatha Anderson acaricia o capitão Bragança, puxando-lhe os pêlos brancos do peito*

FELISBERTO BRAGANÇA, assustado, afasta-se da detetive Anderson
Teremos muito trabalho esta noite, detetive Anderson. Mastodonte, prepare nossas viaturas.

MASTODONTE
Sim, senhor!

*Mastodonte sai do aposento*

AGATHA ANDERSON, olhando promiscuamente para o capitão Bragança
Chefinho... que tal uma ronda noturna hoje depois do expediente?

FELISBERTO BRAGANÇA, arregalado, encostado na parede, evitando o olhar da detetive Anderson
De-detetive...? O que quer dizer...?!

AGATHA ANDERSON, aproxima-se do capitão exibindo os fartos seios por debaixo do insinuante decote
Hm... pode me chamar de Agatha, se quiser...

FELISBERTO BRAGANÇA, afastando-se rapidamente em direção à porta, muito nervoso
Agat -quer dizer- detetive Anderson, err... Mastodonte já deve ter tirado os carros da garagem... vamos capturar este criminoso!

AGATHA ANDERSON, com um ar de decepção
Certo, chefinho. Vamos lá...

*Os dois deixam o aposento, descem as escadas, saem pela porta da rua e encontram Mastodonte esperando em frente o portão*

MASTODONTE
Tudo pronto, capitão.

FELISBERTO BRAGANÇA
Obrigado, Mastodonte. Vamos, detetive Agatha---detetive Anderson.

*Os dois entram no carro e deixam o local*
*fim da cena*

Cena 3
exterior, Casa de Charlotte Manson, noite.

Felisberto Bragança chega com seu Corcel 78 e para na frente da casa de Charlotte Manson, onde vários outros carros se aglomeram.
Felisberto desce, seguido por Agatha Anderson.
Os dois seguem rumo à casa, bloqueada por uma fita policial. Na frente, um homem grande, gordo e careca, vestido com roupas de enfermeiro, os impede de passar:

ENFERMEIRO, para FELISBERTO BRAGANÇA
Que ocê qué?

*O Enfermeiro vê Agatha Anderson*

ENFERMEIRO, para AGATHA ANDERSON
Ô, meu santo padim Ciço! Ocê tem telefone?

*Agatha Anderson com um sorriso malicioso, demonstra certa timidez e exibe-lhe os peitos. Felisberto Bragança fica em posição estática.*

ENFERMEIRO
Ôch!

*Felisberto Bragança, demonstrando desconforto, olha para o enfermeiro com severidade.*

FELISBERTO BRAGANÇA
Recebemos um comunicado de mais um ataque do maníaco estuprador, vindo deste local.

ENFERMEIRO
E o que o sinhor qué, santo Pastô Everaldo?

FELISBERTO BRAGANÇA
Desejo ver o corpo da vítima e investigar o local, os paramédicos já realizaram seu trabalho?

ENFERMEIRO
Num tem corpo ninhum aqui, sinhô. Os brigadianu já passaro aqui e levaro a moça... mas ela num tinha as teta dessa potranca da sua parceira... são di arripiá os gurgumilho!

*Agatha Anderson não consegue esconder a satisfação com tais palavras, inclinando-se lentamente para a frente e balançando os seios, um de cada vez, alternadamente. O capitão Bragança, enfurecido, aproxima-se do enfermeiro, encarando-o.

FELISBERTO BRAGANÇA
O que você está me dizendo? A Brigada Militar não tinha o direito de remover o corpo do local do crime! Este caso é nosso, ouviu? NOSSO! PORRA!

ENFERMEIRO
Ôch, mainha! Com essas teta eu num ia precisá nem mais da minha vaca maiada lá no sítio!

FELISBERTO BRAGANÇA
O senhor respeite a minha parceira ou vou agora mesmo prendê-lo por desacato!

AGATHA ANDERSON [mantendo seu malicioso sorriso no rosto]
Temos alguém com ciúmes, chefinho? Nham nham!

*O capitão Bragança, desconsertado, afasta-se do enfermeiro e olha pros lados freneticamente*

FELISBERTO BRAGANÇA
Não diga besteiras, detetive Anderson!

*Neste momento, por detrás do enfermeiro, outros dois enfermeiros carregam uma maca rapidamente em direção à ambulância; os detetives não percebem o movimento*

ENFERMEIRO
Entonce, vamu nessa. Meu trabaio acabou por aqui. Vão si intende ocêis com os brigadianu que eu num tenhu nada a vê cum issu! Benção proceis que eu to mi indo! Tchau!

FELISBERTO BRAGANÇA
Espere, eu tenho mais pergunt...!

*O enfermeiro entra na ambulância, que entra em movimento. De dentro do veículo, ele ainda olha para a detetive Anderson*

ENFERMEIRO:
Ô, LÁ EM CASA!

*A ambulância deixa o local*

AGATHA ANDERSON [passando a língua lentamente pelos lábios superiores]
Hmm! Espero que nós nos encontremos novamente...

FELISBERTO BRAGANÇA [fecha os olhos com força, controlando a raiva]
Quieta, detetive Anderson! Cansei de esperar. Vamos entrar nessa espelunca!

AGATHA ANDERSON [fica com uma expressão séria repentinamente]
Sim, capitão.

*Os dois atravessam a fita e passam pelo portão da casa. A porta da casa está escancarada.*

FELISBERTO BRAGANÇA [observa a entrada da casa]
Detetive Anderson, você não acha estranho que a brigada militar tenha simplesmente abandonado a casa às moscas, deixando tudo aberto, sem consideração nenhuma pela finada moradora?

AGATHA ANDERSON
Não.

FELISBERTO BRAGANÇA [arregala os olhos mas logo em seguida forma um ar de compreensão]
É, tem razão.

*Entram na casa, acendem as luzes e observam a sala*

AGATHA ANDERSON
A vítima possivelmente foi atacada e seu quarto, se acabou de morrer é porque já estava dormindo...

FELISBERTO BRAGANÇA
Sim, vamos para o andar de cima.

*sobem as escadas e observam o quarto com a porta entreaberta, entram nele.*

AGATHA ANDERSON [espantada]
A cama está um pouco bagunçada, mas não há sinal de luta. O criminoso é realmente rápido e eficaz. Sinto até um arrepio lá embaixo, uma vontade de...

*O Capitão Bragança a olha com olhar de censura*

AGATHA ANDERSON
Desculpe, capitão. Eu apenas fiquei ligeiramente inspirada. [força os peitos para frente e faz movimentos giratórios com os braços]

*O capitão Bragança não muda a expressão e, ao ver que não agradou, a detetive Anderson dá alguns passos pelo quarto procurando pistas*

AGATHA ANDERSON
...Mas como eu ia dizendo, não é possível que não haja nenhuma pist...[solta um grito]

*Agatha Anderson pisa em falso e cai em um buraco formado pela madeira do chão que está podre*

FELISBERTO BRAGANÇA [espantado]
Detetive Anderson, tudo bem com a senhora?!

AGATHA ANDERSON
Ah... acho que sim, mas tem alguma coisa presa no meu pé...

*A detetive Anderson retira a perna do buraco e junto com ela vem uma calcinha*

AGATHA ANDERSON [com um ar irônico]
Uma... calcinha? Esta mulher guardava calcinhas embaixo do piso do quarto?

FELISBERTO BRAGANÇA
Dê-me isto aqui. [apanha a calcinha]

*o capitão Bragança examina a calcinha por alguns segundos e nota alguma coisa*

FELISBERTO BRAGANÇA [começa a suar frio]
Detetive Anderson...

AGATHA ANDERSON [curiosa e preocupada]
O que houve capitão? Algum problema com esta...?

FELISBERTO BRAGANÇA [subitamente]
...Leia isto!

*escrito na calcinha: "ISTO É APENAS O COMEÇO! BJUX DO STEPH"*

*Agatha deixa escapar um grito e solta a calcinha no chão*

*Felisberto Bragança junta a calcinha do chão e a aperta com força*

FELISBERTO BRAGANÇA
O assassino está querendo se comunicar conosco.

*Agatha Anderson olha incerta para o capitão Bragança*

AGATHA ANDERSON
Capitão... aí diz um nome...! Pode ser do assassin...

FELISBERTO BRAGANÇA
Só pode ser um pseudônimo, ele jamais revelaria a identidade assim.

*Agatha Anderson coloca a mão no queixo*

AGATHA ANDERSON
Não sei, chefe... Pode ser que ele seja mais um daqueles assassinos problemáticos que revelam tudo que querem de uma vez.

FELISBERTO BRAGANÇA
Em calcinhas? Nem mesmo se ele fosse pedófilo.

*Sons de carros policiais são ouvidos*
*Coronel Mendes entra correndo na casa, seguido por outros membros da Brigada*
*Felisberto Bragança e Agatha Anderson viram-se, imediatamente*

CORONEL MENDES, apontando o revólver para Felisberto Bragança
Parados aí, chinelagem! Coronel Mendes e a Brigada chegou pra botar ordem nessa merda!

FELISBERTO BRAGANÇA, assustado
Acalmem-se! Somos da NYPD!

*Coronel Mendes caminha em passos triunfais e arranca a identificação de Bragança de suas mãos*
*Coronel Mendes lê e devolve a identificação*

CORONEL MENDES
É, parece que está tudo certo. NYPD? *Cospe* Esses americanos, sempre fazendo merda...

*Coronel Mendes vira-se para os outros brigadianos*

CORONEL MENDES
Os americano já tão cuidando do negócio, vamo voltá pra ronda!

*Agatha Anderson anda em pose sensual e cutuca o ombro do Coronel*

CORONEL MENDES
Que é, vadia?

AGATHA ANDERSON
Senhor, os Enfermeiros nos avisaram que os Senhores já fizeram a investigação e a perícia por aqui. Procede a informação?

*Os brigadianos viram-se para contemplar os peitos de Anderson*
*Coronel Mendes fica na mesma posição*

CORONEL MENDES
Não, vadia, não procede. Mas se tu me dá licença, tenho que passar na Yeda ainda hoje, ela ficou me devendo uns salários atrasados.

*Os brigadianos se retiram da casa*
*Agatha Anderson e Felisberto Bragança ficam a olhar-se, inconformados*

FELISBERTO BRAGANÇA
Aqueles enfermeiros filhos da puta...

Fim da cena.